Bruno Bruni - Broovin 3

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Nascida através da junção de seu sobrenome ao termo ‘grooving’, a trilogia Broovin chega agora em seu capítulo final. Broovin 3 marca o crescimento de Bruno Bruni como artista e seu know-how no universo musical, pois diferente dos discos anteriores, agora existe o que o próprio artista chama de ‘big band’ por trás das melodias: além da banda padrão que o acompanha, novos e velhos amigos de jornada dão seus toques no presente material, que chega cinco anos depois do início da tríade.


Um ambiente regido por um senso cativante de malandragem se instaura a partir do repicar da caixa da bateria de Victor Cabral. Amplificando essa energia, Felipe Pizzu vem com um baixo encorpado que acrescenta o swing e, consequentemente, a sensualidade do soul ao cenário, que ainda ganha ligeiros toques de soft rock a partir da contribuição da guitarra de Bruno Bruni. Com a fusão do gélido do piano e teclado, além da malemolência solar do time de sopro, You’re Alive não demora em se concretizar como um produto irresistivelmente dançante, enérgico e sorridente. Dando uma sutil acalmada nos ânimos, quem puxa a camada lírica é um timbre doce e de agudez com potencial de estridência. É Laura Lavieri fazendo com que o ouvinte sinta o frescor e, simultaneamente, consiga uma extrassensorialidade capaz de tocar nas gotículas que saltam das ondas do mar. Contando com um solo up’n down do saxofone, cheio de melismas e sensualidade, You’re Alive é, enquanto agraciada pela opacidade de instrumentos como o atabaque e o agogô de Mateus Prado, o perfeito equilíbrio entre a estridência do trompete, o grave do trombone e a agudez provocante do saxofone. Capaz de recriar a ambiência dos anos 60, a faixa, apesar de sua vivacidade enérgica incitante pela dança, pelo molejo e pelo sorriso, traz em seu enredo um indivíduo que vive uma vida boêmia e uma rotina problemática, mas que não deseja incitar preocupação naqueles que o cercam.


Existe algo despropositadamente cômico na forma como as notas do teclado se movimentam. De harmonia floral e adocicada, a canção flui alegremente para uma melodia de corpo samba de origem dos anos 60. Ainda com grande peso do soul em sua base rítmica, Call Me é narrada por uma voz suave e de caráter aveludado. Marina Marchi traz sensualidade, frescor e um convite ao descompromisso e à despreocupação através de sua interpretação lírica recheada de melismas. Com direito a versos melódicos jazz, Call Me é o prazer da conversa presencial, daquela que se escuta, se vê e se entretêm organicamente com a presença do outro. É o prazer do encontro e da liberdade do mundo virtual. É como se sentir sentado em uma mesa de bar rodeado de amigos, bom papo e muitas risadas. Uma canção verdadeiramente entusiasmante.


A maciez entra em voga através do saxofone soprano de Thomaz Souza, mas que é acompanhada por uma base de textura grave vinda do saxofone barítono de Anderson Quevedo. Com a junção dos saxofones alto e tenor de Gaia Wilmer e Cassio Ferreira, respectivamente, a faixa ganha sensualidade e notras de classicismo, ainda que o swing solar prevaleça de maneira a, inclusive, trazer uma ambiência por vezes francesa. O Jardinzinho é um interlúdio marcado por uma jam session entre os integrantes do time saxofonista de Broovin 3. Fresca, sensual e solar, a faixa consegue o perfeito equilíbrio entre o grave, o veludo e o estridente em uma estrita sinergia capaz embriagar o ouvinte e colocá-lo em uma mesa de bar jazz dos anos de 1897.


O clima de jam session continua no novo amanhecer. Macia, swingada e groovada, Sem Palavras tem um dulçor adoravelmente cativante não apenas graças ao fender rhodes, mas também à delicadeza adocicada do timbre de Marina Nemésio. Promovendo uma boa mistura do soul com pitadas de MPB, a canção é abraçada por uma cama de um açúcar sintético vindo do teclado, que acompanha alguns rompantes de sensualidade promovidos pelos sopros do saxofone. Com ligeiros toques new waves, Sem Palavras é uma canção que aborda o incerto e a probabilidade. Contudo, o que dela ressalta é a insegurança e a falta de coragem em assumir e expor as emoções sentidas, uma atitude vista como um escudo para possíveis sofrimentos vindos de um novo acaso da vida.


Mantendo a força do swing jazz, o ambiente nasce com um embrionário senso solar, enquanto possui, sem demora, sua narrativa lírica evidenciada por uma voz adocicada com curiosas notas sintéticas. É Bruni surgindo sobre uma base fortemente amaciada pela cadência rítmica da bateria de Vicente Pizzu e entregando um enredo sobre a incerteza da reciprocidade da paixão. De frescor controversamente retro capaz de transportar o ouvinte para uma Copacabana sessentista, Ela Sabe é sensual em sua estética rock nacional oitentista, cuja estrutura e paisagem melódica muito rememoram o padrão sonoro das canções de Rita Lee, fator também muito pungente através do backing vocal de Heloá Holanda.


A união entre a guitarra de Guilherme Lírio, o teclado e a bateria causa uma sensação de gelidez contagiante e swingada. Junto do piano e do sopro agudo-estridente dos trompetes de Sidmar Vieira e Joabe Reis, a canção embala uma sensualidade melódica atraente. Cheia de rimas simples e um vocal de timbre sussurrada vindo também de Lírio, Eu Erro Sempre tem uma energia atordoante que sugere um indivíduo atrapalhado e constantemente perdido em suas ações. Não por menos, a faixa retrata a rotina de um personagem desfocado e certamente com déficit de atenção, mas que, por outro lado, dê voz a ações do inconsciente que indicam certo tom de insatisfação com determinadas pessoas e deveres. No verso “tento prestar mais atenção, mas eu erro sempre” é a confirmação de que o indivíduo se apoia em uma verdade no conforto de sua realidade, indicando, assim, resistência em melhorar tais ocorrências.


Já puxada por um solo de saxofone acompanhada de uma base melódica macia e swingada, No Escuro se inicia com uma paisagem de jam session tão grande quanto aquela presenciada em O Jardinzinho com uma harmonia forte, marcante e irresistível graças à equipe de músicos que dão vida a um time de 13 metais. Com um solo de guitarra ácido acompanhando novamente o timbre adocicado de Marina, No Escuro é mais uma obra que mergulha profundamente na proposta de fusão entre jazz e soul em uma sonoridade que dá prevalência ao corpo bojudo e levemente grave do trombone baixo de Luana Maelle. Solar e fresca, No Escuro é uma faixa regida por coloquialidades que, liricamente, mistura o romance com o incitar de persistência, perseverança e foco. É como construir um senso de autoconfiança capaz de fazer o ouvinte não apenas vislumbrar as atitudes necessárias para moldar seu próprio destino, mas também a coragem e a imponência de garantir a sobrevivência mesmo no breu.


Uma obra solar. Broovin 3 possui alma de jam session e um coração pulsante em sua energia fresca, sensual, groovada e swingada que, ao mesmo tempo, é retro em revisitar certas texturas melódicas provenientes dos anos 50 e de séculos passados. Um trabalho fortemente melódico que entretém, mas que também motiva, reflete e alegra.


Respaldado por um extenso time de músicos, Bruno Bruni não apenas promoveu crescentes harmonias e uma energia encantadoramente excitante. Ele trouxe, também, a perfeita fusão entre o veludo e o ácido, o encorpar e a secura, o clima de descontração com recortes sociais questionáveis.


Entre ritmos como o jazz, o soul, new wave e a MPB, Bruni transita, em Broovin 3, pelo romance, o afeto, a descontração, a autoconfiança e a boemia. Contudo, sem a ajuda de Nico PaolielloKassin e Bruno Buarque na mixagem, o álbum não teria uma alma tão consistente. Afinal, com o auxílio dos profissionais, o material foi finalizado com uma sonoridade firme, consistente e equalizada a ponto de proporcionar ao ouvinte um grande banquete de texturas e sons que parte de diversas frestas melódicas.


Fechando o escopo técnico, vem a arte de capa. Assinada por Maria Cau Levy, a obra encarna os conceitos de diversão, descontração e despreocupação tão pungentes no álbum. Em uma fotografia recortada e caseira, a imagem traz a figura de um homem jogando futebol em uma quadra bairrista, cuja energia emanada é de um puro recorte temporal de imaturidade.


Lançado em 03 de novembro de 2023 via Matraca Records e YB Music, Broovin 3 é o groove, é o swing, é o compasso, é a maciez. É um material repleto de texturas excitantes e inquestionavelmente atraentes que, entre grandiosas harmonias, é um belo convite para o entretenimento que faz relaxar, mas também pensar e refletir. Tudo com um sorriso sedutoramente orgânico e incontrolável.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.