Evanescence - São Paulo 2023

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O céu era cinza com uma temperatura amena pelos seus 24ºC. Perto do Shopping Bourbon, a calçada da Francisco Matarazzo tinha um movimento peculiar. Diversas pessoas, em seus trajes pretos, andavam a passos largos no sentido do Shoppng West Plaza.


Acompanhando o fluxo, via-se que o formigueiro era a entrada B do Allianz Parque. Ali, um grande número de pessoas já se encontrava amontoado entre as grades que indicavam a disposição da pista premium para o show do Evanescence, que aconteceria na noite daquele sábado de 21 de outubro.


Dentro do estádio, a correria foi generalizada pela ânsia de se conquistar o melhor lugar. No que tange a pista premium, os pagantes tiveram que disputar, na grade, as sobras deixadas pelo público que optou pelas opções superiores de entrada, como as chamadas early entry e sound check, que, no caso, já se encontrava na parte central do alambrado.


Ainda assim, era possível notar algo de curioso naquele cenário de prelúdio de caos. A área dedicada à pista premium era visivelmente superior em relação aos outros shows realizados no Allianz Parque, fazendo com que a visão do público da pista comum para o palco ficasse prejudicada. Ainda assim, a plateia não parava de chegar, tanto que, já às 17h30, todos os setores já apresentavam considerável volume de plateia.


Para suavizar a espera, coincidentemente, o público já presente se entretinha com a passagem de som do Ego KIll Talent, banda que faria a abertura para o Evanescence naquela ocasião. Porém, foi breve aquilo que pareceu ser um entretenimento surpresa, deixando novamente a plateia na companhia do relento e dos burburinhos de conversas cruzadas.


Sob um céu agora lunar, o público que se encontrava na grade da pista premium foi surpreendido por uma interação despropositada do segurança da Amy Lee. Naquele instante, o profissional disponibilizou palhetas para aqueles que estavam pressionados contra o alambrado e, ao subir no palco, lançou o restante de palhetas ao acaso, causando uma breve e grande disputa pelo souvenir.


Ego Kill Talent


Às 19h42, quando as informações de segurança do estádio foram exibidas no telão, o público esboçava feições de um cansaço curiosamente contagiante. Pouco depois, às 20h54, ainda com as luzes apagadas, o Ego Kill Talent subiu ao palco com uma receptividade morna durante a execução de Sublimated, a faixa de abertura.

Foi então que Emilly se posicionou à frente do microfone e fez uma breve interação: “E aí, São Paulo! Nós somos a Ego Kill Talent e estamos muito felizes de tocar essa noite pra vocês!”, disse ao puxar Call Us By Her Name, música lançada na noite anterior à presente apresentação.


Finding Freedon veio na forma de uma mesma novidade. Lançada junto a Call Us By Her Name como amostra do EP homônimo a ser lançado em 10 de novembro, a faixa contou com, a mando do guitarrista Theo van der Loo, palmas sincrônicas junto ao solo de guitarra elétrica.


O show seguiu com poucas músicas a mais, tendo, em Last Ride, a maior participação do público. Durante a faixa de encerramento, ao comando de Emmily, o público passou a erguer os braços com punhos fechados e em pose de ordem. Paisagem se manteve até as explosões sonoras uníssonas que marcaram o fim do show às 20h24.


Como uma apresentação cheia de pressão, o show realizado pelo Ego Kill Talent no Allianz Parque serviu, segundo Loo, como forma de apresentar oficialmente Emilly Barreto como vocalista. Cantora assume definitivamente o lugar antes ocupado por Jonathan Dörr, que deixou o grupo rumo a novos projetos.


Em retrospecto, foi visível a boa escolha de Emilly como nova vocalista. Afinal, ela apresentou uma voz bem afinada, potente e respaldada por uma interpretação teatral, se equivalendo ao perfil sonoro do grupo. No entanto, durante o show, o volume do instrumental por diversas vezes se sobressaia perante o do microfone, deixando dificultoso a interpretação e audição daquilo que estava sendo cantado.



Depois que os instrumentos do Ego Kill Talent foram retirados do palco e foi feita a passagem de som da bateria de Will Hunt, o playback tocou Admirável Chip Novo. O momento arrancou uma curiosa e eufórica participação do público que cantou a música em coro durante toda a sua execução. O mesmo aconteceu quando Teto De Vidro foi executada, mostrando e provando a influência, notoriedade e atualidade que a Pitty carrega consigo como expoente do rock nacional.


Evanescence


Quando o relógio marcou 21h, o palco se apagou e Killing In The Name, single do Rage Against The Machine, é tocada no playback como início do prelúdio do show. Artifact/ The Turn veio em seguida como o verdadeiro despertar da performance oficial daquela noite fria de São Paulo.


Enquanto a iluminação valsava sincronicamente à melodia, os cinco integrantes do Evanescence tomavam seus postos e Broken Pieces Shine veio como abertura do primeiro show em 16 anos do grupo no Allianz Parque, que, à época, era denominado como Palestra Itália. Como era de se esperar, a canção foi responsável de formar o primeiro ponto alto do show, pois o público fez uma receptividade eufórica e insana cantando a música em um coro uníssono, além de fazer um festival de mãos chifradas que desenhava todo o campo.

Sem perder o fôlego, a plateia seguiu o mesmo feito, com a mesma euforia e entrega, durante What You Want e Going Under, as faixas seguintes. Depois de uma breve interação de Amy Lee, que agradeceu por recebê-los de volta, foi a vez de Take Over ser a trilha sonora do estádio.


Já em Wasted On You, canção que veio após o medley Lose Control/ Part Of Me/ Never Go Back e a solo Call Me When You’re Sober, o Allianz Parque foi iluminado somente pelas luzes dos celulares. A iniciativa foi marcada como um momento de construção de uma espécie de serenata metalizada.


Um feito parecido, mas agora por parte da banda, ocorreu em Far From Heaven. No recorte temporal, Amy Lee se posicionou ao piano somente na companhia de Hunt na bateria e proclamou o enredo lírico em uma interpretação intimista e visceral até que deixa o palco junto ao seu colega.


Eis que uma pausa dramática é feita. Ninguém no palco. Enquanto isso, no telão, cenas de turnês passadas são transmitidas, criando um enorme clima nostálgico. Eis então que, ao retornar ao palanque, o Evanescence puxa a potente e soturna Imaginary, acompanhada pelo canto uníssono do público, que pareceu, naquele instante, ter recebido doses extras de adrenalina.


Prova disso surgiu durante a performance de Better Without You. Nela, o público pareceu estar em êxtase, balançando bruscamente a cabeça, cantando a plenos pulmões e levantando, o mais alto possível, as mãos chifradas. Se aproveitando dessa entrega, Amy ainda incentivou a plateia a erguer os braços em pose de ordem sempre que o nome da canção era pronunciado.


End Of Dreams também teve destaque. A canção teve sua introdução feita à capella por Amy que, pouco depois, foi acompanhada de seus colegas no encerramento da canção, que ainda contou com um solo estendido de Troy McLawhorn. Já em Use My Voice, o último ponto alto ants di bis, a cantora incentivou o público a cantar o verso vocálico, o que foi prontamente atendido.


Depois de Blind Belief, a banda deixou o palco por um instante, comportamento padrão para instigar o público a querer mais e satisfazê-lo, assim, com um bis já programado. Na volta, Amy se posicionou ao piano e puxou My Immortal. “I don’t wanna this time to end”, disse ela enquanto instigou o público a acompanhá-la com as luzes de celulares, tornando o Allianz Parque um cenário tocante.


Bring Me To Life foi a responsável pelo fechamento, que recebeu uma entrega pungente e visceral do público, que se surpreendeu ao presenciar, durante a execução da faixa, uma explosão de confetes que deixou o estádio completamente colorido. Apiado não só nesse feito, o Evanescence ainda proporcionou uma bela queima de fogos, que deixou o público dividido entre acompanhar os últimos instantes da performance ou se vislumbrava a beleza das explosões coloridas no céu noturno de São Paulo. Adornado por um belo encerramento, o grupo deixou o palco às 22h35, pondo um fim oficial naquela que foi sua primeira apresentação na capital paulista em seis anos.


Em retrospecto, o show do Evanescence foi um espetáculo muito aguardado e que conseguiu, na troca de localidade, passando do Novo Anhangabaú para o Allianz Parque, o dobro de público. Porém, é possível dizer que as expectativas não foram totalmente sanadas.


Em uma performance de pouco mais de 1h30, o grupo entregou um setlist recheado de hits, é verdade, mas teve uma apresentação fria. Em meio às suas 17 músicas selecionadas para aquela noite, o Evanescence não realizou grandes interações, se apoiando nas curtas e padrões frases-feitas de ‘i love you’, ‘is so good to be here’, entre outras.


No mais, a banda ainda não se aproveitou do amplo espaço que tinha no palco, com passarelas que se estendiam para ambos os lados do palanque. Não à toa que o público localizado, especialmente, na área esquerda, que teve uma visão parcial da banda e, consequentemente, de Amy, que aproveitou apenas o centro e a região da direita. O único que caminhou para a esquerda, em curtos momentos, foi Tim McCord, que ia e voltava com movimentos mecânicos. 


Em suma, não há o que dizer em relação ao som, pontualidade ou qualidade do setlist. Foi intenso, preciso, pungente e grandioso, começando e terminando no horário previamente marcado. Ainda assim, o show teve uma alma fria e burocrática, tornando o público em um mero participante de um momento que, se tivesse tido interações mais acaloradas, poderia torná-lo protagonista e não somente coadjuvante.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.