
Sem grandes dificuldades, até mesmo o ouvinte mais deslocado acaba sendo capturado pela energia densa proporcionada pela desenvoltura inicial da guitarra. Intimista, dramática e pungente, a melodia aqui estruturada promove uma experiência sensorial que beira a reflexão, mas que dá destaque a um estado entorpecente curiosamente sombrio.
Entre pulsos latentes cuidadosamente pincelados pelo baixo, o espectador entra em contato com frases percussivas espalhadas, propositadamente sem uma frequência linear. Nesse instante, esse viés percussivo se mostra repicado de forma a, curiosamente, trazer fluidez, mas, essencialmente, as primeiras pistas de uma agonia adormecida. Enquanto o ouvinte se perde em meio à generosa camada sensorialmente melancólica que se cria, o vocalista, através de seu timbre fanhoso, desenha uma linha lírica em cuja interpretação entra em uma sintonia energética bem equilibrada com aquilo que está sendo proposto pelo instrumental.
Caminhando livremente entre os universos sonoro-estruturais do metal alternativo e do post-grunge de maneira a criar uma semelhança estética para com a sonoridade desenvolvida pelo Puddle Of Mudd, Broken explode em um refrão soturno, rascante e de uma angústia pegajosa. Destacando uma vez mais o ímpeto dramático, a faixa, nesse recorte sonoro-narrativo, se permite exortar a máxima fragilidade experienciada pelo personagem lírico.
Com esse arranjo de toques melancólicos pegajosos, o Deflecting Ghosts convida o ouvinte a dialogar, com maturidade e consciência, sobre a disputa entre negação e a autoconformação de comportamentos que pedem por mudanças necessárias. Nesse aspecto, o toque soturno do grunge vem como um enaltecedor da urgência dessa temática, que leva, inclusive, a uma espécie de salvamento interior após anos de vício.