
Seu despertar já é regido por uma estrutura madura. Sem a necessidade de uma introdução tradicional, com instrumentação gradativa, a obra já traz a voz agradavelmente rouca de toques agudos de Nicole Obarzanek entrando em contato direto com um baixo de groove saliente, encorpado e sensual. Junto com o beat de natureza eletrônica, o instrumento dá à composição uma atmosfera inquestionavelmente soul.
Misturando frescor, precisão e sensualidade, o instrumental, inevitavelmente, tem no baixo o seu elemento de destaque. Com seu andamento trotante, ele fornece não apenas corpo, mas consistência à sonoridade. Conforme a obra vai se desenvolvendo, porém, mais fluidez é endereçada à sua estrutura e o ouvinte se percebe cada vez mais envolvido com o ecossistema de essência dançante.
Ganhando a participação da guitarra por meio de um riff ameno capaz de enaltecer a qualidade leve e envolvente, a composição mergulha em um refrão que transforma a atmosfera conjuntural em uma afiada e consistente fusão entre sou e disco music. Tal evento faz com que Toxic acabe apresentando uma arquitetura bastante semelhante àquela de posse de To Be Real, single de Cheryl Lynn.
No entanto, apesar de sua sonoridade divertida, envolvente, swingada, transpirante e dançante, Toxic coloca sobre os holofotes uma temática importante e atual. Pondo em cima da mesa uma discussão afiada sobre assédio moral, o famoso bullying, na escola, a canção aborda, com profundidade, a forma como as fofocas afetam a vida dos estudantes.
Ao mesmo tempo, a faixa analisa a origem desse comportamento predatório. O medo, a insegurança e a inerente ausência de autoconfiança são tidas como ações que devolvem certo quê de satisfação no predador enquanto atinge aquele aparentemente mais fraco. Porém, a verdade é que é, o predador, a verdadeira presa. A desvalorização do outro é apenas uma forma de levantar a sua falsa autoestima. E a estrutura rítmico-melódica divertida e leve serve como um comportamento provocativo que assume o deboche em um mesmo tom do assédio moral. Assim, o som entra na mesma sintonia do lirismo, mas com toques rascantes de desaprovação, ainda que superficialmente leve.